Destaque para outras Almas Nuas

domingo, 1 de setembro de 2013

Os Sons do Silêncio


Imagem: Lewis

Abaixem o volume!
Ajustem o áudio!
Os sons da mediocridade humana afetam meus ouvidos!
Impossíveis de isolar!
Não me permitem ouvir a música natural da Vida!

As ambulâncias berram desfilando pela avenida,
Deixando claro o quanto do sofrimento alheio é ignorado...
As viaturas passam rasgando as ruas gritando:
- O Mal está em atividade!
Os cães de todo o bairro refletem o que consome seus donos:
- Desconfiança! Insegurança! Desconfiança!
Crianças são ouvidas mas, 
Não são os risos das brincadeiras...
Elas choram e reclamam...
Os ônibus arrancam dia e noite...
Em viagens que nunca terminam...
"Esse povo não tem casa?"
Um louco berrou distante e o eco de sua voz
Invadiu a tranquilidade do meu quarto!

Seria alucinação auditiva?
Porque ao raiar do dia
Ouço galos cantando e respondendo um ao outro...
Na Era da Tecnologia,
Quem será que ainda tem galos no quintal?

As motos vão e vem
Não se sabe de onde ou pra onde
Todas tão iguais,
Buzinando não se sabe pra quem 
Com seus escapamentos abertos
Talvez pra avisar que estão passando...
Uma atenção ou importância requerida também
Pelos carros cuja música desagradável lateja
Feito tiros direto nos neurônios...

A guerra já acabou?
Às vezes, ouço o som de tiros...

Abaixem o som, 
Contenham os ruídos,
Ajustem o áudio!
Reprimimam tanto barulho feito para existir!
Deixem-me ouvir os raios da manhã tocando as casas...
Deixem-me ouvir a negrura da noite abraçando tudo...

Vem a brisa leve e as folhas esfregam-se umas as outras...
O passarinho dorme no galho, 
Oculto aos olhos que dormem:
Ele dá piadinhos como se sonhasse.
Os sons das gentes abafam os sons noturnos:
Não ouvi mais o Quero-Quero passando pela janela...
Todos dormem e não sabem:
Aves noturnas ou viajantes em bando voam a noite
Cantando para a noite...

Durmam! Durmam! 
Para que eu absorva toda esta tranquilidade!
Pois há formas e cores nos sons!
O desenrolar da folha nova no ramo é música!
Nos morros forrados por casas,
No meio da noite alguém se levanta
E acende a luz: um tilintar...
Quadradinhos piscam na escuridão...
- Não despertem! Voltem a sonhar!

O som das estrelas cintilantes azuis
É o mesmo que os flocos de neve fazem ao cair...
Não se vê nuvens mas, pode-se ouví-las passando
Delicadamente...

A brisa tem o mesmo som do sopro vindo da boca da mãe
Na ferida do filho que se machucou ao brincar...

Um carro passa na avenida...
Ouço a borracha aderindo ao asfalto:
Pneu novo!
Um cão late avisando que alguém estranho passa...
Por favor: vão dormir!
Porque com um pouco mais de silêncio, 
Poderei ouvir a Terra girar!

Pois o silêncio é isso:
Uma coleção de sons naturais!

Os sons do 'viver' são diferentes dos sons do 'existir'...






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